Por Marcos Almeida Pfeifer
Não tem agressão, violência, racismo, exclusão, desmatamento...
Andando pelas ruas de Capão da Canoa, Litoral Norte do estado do Rio Grande do Sul vejo um rapaz negro parando sua bicicleta e se dirigindo a um outro moço sentado na cadeira de um bar, perguntando: - "Oi meu chefe, teria três reais para eu comprar meu cigarrinho?" Olhava para o interlocutor e passava uma mão na outra como se procurasse um dinheiro.
O outro, o da cadeira, sentado em frente ao bar mas aparentemente sem consumir nada, nem um copo na mão, assim como ocorrem em muitos locais distantes das grandes cidades, ficando ali também pelo papo, sem sofrer pressão para consumir, respondeu ao moço da bicicleta: "não tenho nada meu rei, e se tivesse, te daria cem e não três reais".
Não se sabe, se realmente ele alcançaria o numerário. Mesmo sendo "papo-furado", com sua fala leve e atenciosa, o da cadeira, ao menos proferiu uma gentileza, deu um carinho verbal ao da bicicleta.
Isso raramente vejo nos caminhos intensos, rápidos e assoberbados dos que têm uma sólida posição de trabalho, ou que "correm" para manter sua máscara social, cercados pelas ruas e esquinas centrais de vitrines, bancos, incorporadoras e multinacionais. Aqui vejo o desespero e a insegurança... de não acreditar na vida.
No Brasil que mostra o encontro do rapaz da bicicleta e do moço sentado na cadeira da calçada do bar, vejo a paciência, a cordialidade, a gentileza de quem vê os outros como iguais, e a destreza, boas maneiras e a necessidade de um bom-papo capaz de promover boas relações na tentativa honrada de buscar meios de suprir suas necessidades. Diariamente nos deparamos com inúmeros brasileiros trabalhando seu pão de cada dia ou na profissão de só andar pelas ruas, pedindo com gentileza.
Nos núcleos, ruas calmas e cidades com menor centralidade, eu vejo o Brasil. No coração de muita gente nos grandes centros, também vejo o Brasil.
Na Capão da Canoa, litorânea, atlântica terra protegida por Iemanjá, vejo o Brasil.
Na preparação do Carnaval de 2025 quando a Portela já definido seu enredo que homenageará Milton Nascimento, eu vejo o Brasil.
Quando vejo e ouço Mariene de Castro cantando "Poema para uma tribo" de Luis Caldas, Bagunçaço e Jota Veloso sou o Brasil cantando e dançando, num Carnaval de amor e de luz, onde a união das pessoas se dá pelo simples fato ou sentimento de amar a vida. Para os tempos de hoje pode soar como uma inocente inovação, sairmos de braços dados puxando um bloco de Carnaval, celebrando a vida.
Esse Brasil, eu conheço.
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